quinta-feira, 29 de julho de 2010

“Mulheres Alteradas”, um teatro em quadrinhos...

A comédia Mulheres Alteradas, que estreou no último dia 16 de julho, está lotando o Teatro Procópio Ferreira. Se você pretende assistir ao espetáculo vale um aviso: compre o ingresso antes na bilheteria, por telefone ou via internet!

O diretor Eduardo Figueiredo, em entrevista ao Blog Retete, disse que a intenção era apenas divertir a plateia. E ele conseguiu: a diversão é garantida e os paulistanos parecem querer mesmo dar boas risadas, a julgar pelo sucesso de público desde sua estreia.

Outro motivo é ver no palco as atrizes Luiza Tomé, Mel Lisboa e Daniele Valente. Elas estão bem sincronizadas, com a velocidade que o texto requer e fala precisa, tal qual a linguagem em HQ.

As encenações são fragmentadas, eu diria "tiras teatrais" bem recortadas e engendradas! Sim, a peça é uma adaptação de cinco livros da quadrinista argentina de sucesso Maitena.

As três dividem o palco com o ator André Bankoff, que por ser o seu primeiro papel no teatro, está conquistando o público com sua atuação descontraída e bem divertida, além de suas expressões faciais impagáveis. Destaco dois momentos: cenas da chicotada e do velório!

Vale também um destaque para a atriz Daniele Valente, que interpreta várias personagens com grande poder de convencimento. Isso, sem falar de sua veia naturalmente cômica. Ela está ótima!

Nas tiras de Maitena, as figuras femininas, em geral, não possuem nomes. Elas espelham características de uma mulher universal, cujos assuntos preferidos são corpo, moda, homens, amores, família, filhos, trabalho.

Porém, na adaptação brasileira, as personagens ganham nomes e personalidades. Lisa (Mel Lisboa) é separada do marido, mãe de um único filho, inteligente, com preocupações fúteis, mas dá uma lição nas (mulheres) mais neuróticas, quando descobre um nódulo em um dos seios. Neste trabalho, Mel Lisboa mais uma vez mostra outra face do seu talento!

Alice (Daniele Valente) é uma mulher solteira, vive no “mundo da lua”, mas de vez em quando solta umas boas verdades. Não mede esforços para encontrar o seu grande amor e vive se decepcionando, no entanto, sempre dá a volta por cima.

Por última, Norma (Luiza Tomé, que volta ao teatro depois de 12 anos) é uma executiva pragmática, casada, com dois filhos e se depara com uma terceira gravidez. O melhor momento da atriz é quando canta "Minha Culpa", acompanhada pelo piano. Muito boa a cena!

Já André incorpora vários personagens masculinos. Estes sim sem nomes, mas repletos de identidades masculinas, os quais certamente aludem a tipos de homens brasileiros. A comparação entre o príncipe e um cidadão comum é hilária!

Se até agora, para você, o espetáculo não trouxe estímulo. Prepare-se! A “Banda Alteradas”: um trio feminino que executa canções instrumentais, ao vivo, compostas para a montagem, dá um show a parte. É muito boa! O som, por várias vezes, remete às onomatopeias dos quadrinhos e no tempo certo de cada encenação. Repare!

A coreografia foi criada por Henrique Rodovalho, fundador da Quasar Cia. de Dança e a criativa direção musical é da pianista da banda, Elaine Giacomelli.

O texto é de Andrea Maltarolli, autora da novela “Beleza Pura”, da TV Globo, falecida no ano passado, devido a um câncer. Ela teve a colaboração de Bernardo Jablonski. Mulheres Alteradas foi a sua última obra completa.

Maitena negou a venda dos direitos de sua obra ao cineasta Pedro Almodóvar. A chargista e cartunista também não concedeu os direitos a produtores de cinema do México e dos Estados Unidos, segundo a produção da peça.

E se esses motivos ainda não justificam o sucesso, talvez ele esteja acontecendo porque a montagem mapeia de forma, aparentemente, descomprometida o discurso sobre a feminilidade presente no mundo contemporâneo.

Ou seja, mulheres, assoladas por cobranças e demandas desgastantes. Às vezes, quase impossíveis de atender simultaneamente: trabalhar o dia todo, dentro de casa idem (e de forma exemplar!), serem mães maravilhosas, amantes insuperáveis e manter as boas formas física, estética e psicológica.

Isso, sem contar com a necessidade de ostentar uma vida emocional serena, equilibrada, a toda prova. Impossível, não é? Mulheres não são assim. Como diz Maitena: “aquela que até ontem esperava dormindo, compra uma cinta liga; a executiva que administrava uma empresa quer viver em um camping; aquela que cuidava da sogra como sua própria mãe interna as duas em asilo; a magra vira uma vaca de gorda e a gorda perde vinte quilos”. Divirta-se!

MULHERES ALTERADAS
Teatro Procópio Ferreira, 80 min., 12 anos, 670 lugares.
Rua Augusta, 2.823 - Cerqueira César - 3083-4475
Sexta e sábado, às 21h30. Domingo, às 19h
Sexta, R$ 50 – Sábado, R$ 70 – Domingo, R$ 60
Vendas: http://www.ingressorapido.com.br/ e tel.: 4003-1212.
Bilheteria: de terça à quinta, das 14h às 19h; de sexta a domingo, das 14h até o início do espetáculo. Acesso a deficientes físicos, ar condicionado e entrega de ingressos a domicílio.
Estacionamento conveniado na Rua Augusta, 2.673 - R$ 10,00 (período de 4 horas. Retirada de selo do estacionamento na bilheteria).
De 16 de julho a 03 de outubro

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A peça Novelo é mais comovente do que engraçada

Se você está procurando uma peça para assistir entre sexta e domingo e não quer ver nenhum pastelão, mas quer se divertir; procura um texto inédito, porém de autor brasileiro; não faz questão de rostos super conhecidos das mídias e tem R$ 20 para pagar entrada inteira ou R$ 10 para meia, anota aí: NOVELO!

O espetáculo está em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso há três semanas e traz os atores Alexandre Freitas, Fábio Cadôr, Elvis Shelton, Flavio Baiocchi e Flavio Barollo. A direção é de Zé Henrique de Paula (que também dirige Side Man, com Sandra Coverloni, no mesmo teatro).

Em entrevista para o Blog Rê-Tê-Tê, Fábio Cadôr conta que Novelo começou quando ele e os outros quatro atores tiveram a ideia de levar para o teatro temas inerentes ao universo masculino. “A montagem, entre texto, projeto e concretização, levou três anos. Pesquisamos muito e após o texto pronto, fomos atrás do diretor, do figurinista, enfim, tínhamos muita vontade de realizar esse sonho”.

E os atores de fato conseguiram! A atmosfera masculina é no palco desnudada e permite aos mais atenciosos aventurar-se pela alma do gênero, tão pouco transparente em artes como teatro, cinema, pintura, música, em que as mulheres ganham sem trégua.

O texto apresenta personagens arquetípicas da sociedade contemporânea. E, no geral, estão bem representadas. Fábio Cadôr, que merece destaque como ator do espetáculo, interpreta o machão Zeca. É aquele cara que vive dando uma de durão e nunca pode admitir fraqueza ou frustração. Adora ter dinheiro, mulheres, carros importados e tem uma necessidade descomunal de se autoafirmar como homem. Bem brasileiro, não? Ou é mais futebolístico?

Como a obra Quincas Berro d’Água, de Jorge Amado, não me deixa mentir, os bêbados também compõem o clima brasileiro. Portanto, Maurício é o alcoólatra da montagem e é encarnado de forma convincente e assertiva pelo ator Alexandre Freitas.

O estereótipo do irmão mais velho que segura as pontas de todos da família está representado por Mauro, vivido por Flavio Baiocchi. Ele cuidou dos irmãos, quando pequenos e continua levando suas responsabilidades a cabo.

O caçula da família chama-se Cláudio, um moço moderno, bonito, mente aberta, artista sensível, amigo de todos os irmãos e super compreensível. E quem dá vida a esse desejo de consumo feminino é Flavio Barollo.

Ah! Mas hoje em dia não se pode mais deixar de falar da homossexualidade. Concordo! João Pedro é um escritor famoso, rico e apaixonadamente gay.

Esses cinco irmãos trazem emoções profundas, dores e traumas causados na infância. Ao se reencontrarem, os sentimentos vêm à tona, caminhando para uma comovente resolução: o amor entre eles. Um belo momento do espetáculo!

O pivô responsável pela oportunidade de "lavarem a roupa suja" e se libertarem dos ressentimentos e mal entendidos é um homem, internado na UTI de um hospital público, que pode ser o pai que os abandonou há mais de 20 anos.

Apesar das lembranças e sentimentos intensos, desencadeando situações patéticas, irônicas, com cobranças e discussões, o texto, de forma inteligente, traz um humor ingênuo e, às vezes tenso, promovendo boas e espontâneas risadas. Comprove!

Novelo apresenta uma visão, envolvendo diversas dimensões do homem contemporâneo, inserindo suas alegrias, conflitos, ambições, coragem, mágoas, medo, frustrações, sonhos e outros estados bastante conhecidos pela humanidade. (conscientes ou não).

Segundo o diretor Zé Henrique de Paula, o que mais lhe atrai no texto é a possibilidade de fazer um recorte do masculino. “Cinco homens diferentes, cinco homens possíveis, cinco homens reais. E, por meio deles, tentar entender melhor o imaginário do gênero como um todo”.

O figurino é do "estilista Fashion Week" Mário Queiroz. A locução em off é da atriz Clara Carvalho (Grupo Tapa) e a trilha sonora do espetáculo foi composta originalmente por Fernanda Maia.

A autora é a experiente Nanna de Castro, que presenteia o público com um texto, no mínimo, desafiador para o elenco e direção. É difícil sair da plateia incólume. Impossível não surgir questionamentos ou sentir certo incômodo. Arte que é arte promove movimentos!

E Novelo não perde neste quesito. A peça apresenta planos de espaço-tempo que se cruzam durante todo o espetáculo. Ora os personagens são adultos, ora crianças. É um Novelo para ser desfiado, interpretado e, acima de tudo, Sentido! Principalmente para aqueles que não têm medo de dar vazão aos sentimentos ou que pelo menos querem aprender a deixá-los fluir. Acesse: http://www.onovelo.com.br/

Serviço:

NOVELO (90 min., a partir de 12 anos, drama)
Sexta, às 21h30. Sábado, às 21h, e domingo, às 19h – R$ 20 e R$ 10 (meia)

Teatro Sérgio Cardoso
Sala Paschoal Carlos Magno (144 lugares) - Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista - 3288-0136

Aceita cartão de crédito mastercard e débito pelo redeshop. Não aceita cheque.
Estacionamentos nas mediações, porém não há convênios com o teatro.

Bilheteira, de quarta a domingo, das 15h às 19h. Nos dias de espetáculos até o início da peça.
Vendas por telefone: 4003-1212 e http://www.ingressorapido.com.br/

De 18 de junho a 15 de agosto e de 18 de agosto a 16 de setembro no Teatro Augusta - Rua Augusta, 943 - Tel.: 3151-2464.