sexta-feira, 9 de julho de 2010

A peça Novelo é mais comovente do que engraçada

Se você está procurando uma peça para assistir entre sexta e domingo e não quer ver nenhum pastelão, mas quer se divertir; procura um texto inédito, porém de autor brasileiro; não faz questão de rostos super conhecidos das mídias e tem R$ 20 para pagar entrada inteira ou R$ 10 para meia, anota aí: NOVELO!

O espetáculo está em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso há três semanas e traz os atores Alexandre Freitas, Fábio Cadôr, Elvis Shelton, Flavio Baiocchi e Flavio Barollo. A direção é de Zé Henrique de Paula (que também dirige Side Man, com Sandra Coverloni, no mesmo teatro).

Em entrevista para o Blog Rê-Tê-Tê, Fábio Cadôr conta que Novelo começou quando ele e os outros quatro atores tiveram a ideia de levar para o teatro temas inerentes ao universo masculino. “A montagem, entre texto, projeto e concretização, levou três anos. Pesquisamos muito e após o texto pronto, fomos atrás do diretor, do figurinista, enfim, tínhamos muita vontade de realizar esse sonho”.

E os atores de fato conseguiram! A atmosfera masculina é no palco desnudada e permite aos mais atenciosos aventurar-se pela alma do gênero, tão pouco transparente em artes como teatro, cinema, pintura, música, em que as mulheres ganham sem trégua.

O texto apresenta personagens arquetípicas da sociedade contemporânea. E, no geral, estão bem representadas. Fábio Cadôr, que merece destaque como ator do espetáculo, interpreta o machão Zeca. É aquele cara que vive dando uma de durão e nunca pode admitir fraqueza ou frustração. Adora ter dinheiro, mulheres, carros importados e tem uma necessidade descomunal de se autoafirmar como homem. Bem brasileiro, não? Ou é mais futebolístico?

Como a obra Quincas Berro d’Água, de Jorge Amado, não me deixa mentir, os bêbados também compõem o clima brasileiro. Portanto, Maurício é o alcoólatra da montagem e é encarnado de forma convincente e assertiva pelo ator Alexandre Freitas.

O estereótipo do irmão mais velho que segura as pontas de todos da família está representado por Mauro, vivido por Flavio Baiocchi. Ele cuidou dos irmãos, quando pequenos e continua levando suas responsabilidades a cabo.

O caçula da família chama-se Cláudio, um moço moderno, bonito, mente aberta, artista sensível, amigo de todos os irmãos e super compreensível. E quem dá vida a esse desejo de consumo feminino é Flavio Barollo.

Ah! Mas hoje em dia não se pode mais deixar de falar da homossexualidade. Concordo! João Pedro é um escritor famoso, rico e apaixonadamente gay.

Esses cinco irmãos trazem emoções profundas, dores e traumas causados na infância. Ao se reencontrarem, os sentimentos vêm à tona, caminhando para uma comovente resolução: o amor entre eles. Um belo momento do espetáculo!

O pivô responsável pela oportunidade de "lavarem a roupa suja" e se libertarem dos ressentimentos e mal entendidos é um homem, internado na UTI de um hospital público, que pode ser o pai que os abandonou há mais de 20 anos.

Apesar das lembranças e sentimentos intensos, desencadeando situações patéticas, irônicas, com cobranças e discussões, o texto, de forma inteligente, traz um humor ingênuo e, às vezes tenso, promovendo boas e espontâneas risadas. Comprove!

Novelo apresenta uma visão, envolvendo diversas dimensões do homem contemporâneo, inserindo suas alegrias, conflitos, ambições, coragem, mágoas, medo, frustrações, sonhos e outros estados bastante conhecidos pela humanidade. (conscientes ou não).

Segundo o diretor Zé Henrique de Paula, o que mais lhe atrai no texto é a possibilidade de fazer um recorte do masculino. “Cinco homens diferentes, cinco homens possíveis, cinco homens reais. E, por meio deles, tentar entender melhor o imaginário do gênero como um todo”.

O figurino é do "estilista Fashion Week" Mário Queiroz. A locução em off é da atriz Clara Carvalho (Grupo Tapa) e a trilha sonora do espetáculo foi composta originalmente por Fernanda Maia.

A autora é a experiente Nanna de Castro, que presenteia o público com um texto, no mínimo, desafiador para o elenco e direção. É difícil sair da plateia incólume. Impossível não surgir questionamentos ou sentir certo incômodo. Arte que é arte promove movimentos!

E Novelo não perde neste quesito. A peça apresenta planos de espaço-tempo que se cruzam durante todo o espetáculo. Ora os personagens são adultos, ora crianças. É um Novelo para ser desfiado, interpretado e, acima de tudo, Sentido! Principalmente para aqueles que não têm medo de dar vazão aos sentimentos ou que pelo menos querem aprender a deixá-los fluir. Acesse: http://www.onovelo.com.br/

Serviço:

NOVELO (90 min., a partir de 12 anos, drama)
Sexta, às 21h30. Sábado, às 21h, e domingo, às 19h – R$ 20 e R$ 10 (meia)

Teatro Sérgio Cardoso
Sala Paschoal Carlos Magno (144 lugares) - Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista - 3288-0136

Aceita cartão de crédito mastercard e débito pelo redeshop. Não aceita cheque.
Estacionamentos nas mediações, porém não há convênios com o teatro.

Bilheteira, de quarta a domingo, das 15h às 19h. Nos dias de espetáculos até o início da peça.
Vendas por telefone: 4003-1212 e http://www.ingressorapido.com.br/

De 18 de junho a 15 de agosto e de 18 de agosto a 16 de setembro no Teatro Augusta - Rua Augusta, 943 - Tel.: 3151-2464.

Nenhum comentário: