quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Pele que Habito: Corajoso, intrigante, bem alinhavado, inquietante...


Dizer que Almadóvar é genial tornou-se um lugar-comum. Há tempos não vamos assistir a um filme de Pedro Almadóvar, vamos ver um Almadóvar. E mais uma vez essa afirmação é constatada em “A Pele que Habito”.

É uma criação diferente, sem cores fortes e brilhantes, sem a comédia de escracho, sem os melodramas exacerbados, sem a discussão explícita sobre sexualidade, às vezes caricatual, comuns em suas películas. No entanto, ele conseguiu imprimir sua marca com todos esses ingredientes, de forma inversa, sutil e sombria. Incrível. É um destilar de sua essência.

Impossível sair indiferente da sala escura, após ver “A Pele que Habito”. O filme é intenso, prende demais a atenção a ponto de esquecermos que estamos no cinema. É um devorar da história, que ao mesmo tempo devora cada olhar dispensado. Inquietante, perturbador!

“A Pele que Habito” não deixa seus espectadores imunes. Ele provoca, angustia, penetra e mergulha nas profundezas da mente, sem explicação. O resultado, entre outros, é uma reflexão sem fim. Pelo menos nos primeiros três dias, depois de presenciar as cenas tão bem executadas.

O que falar dos atores? Todos ótimos e bem dirigidos, com mais ou menos aparições. Adoro diretor que dirige! E Pedro Almadóvar faz jus ao título. Frouxidão não é com ele. Dos enquadramentos a narrativa, ação, desfecho... Cada tomada demonstra cuidado e precisão.


A firmeza e segurança de Antonio Banderas ao interpretar Richard Legrand são disseminadas por todo o filme. Nada de mais, nem de menos. Convicto e fiel. Nenhuma redundante ideologia explícita, reproduzida do mundo contemporâneo, muito menos disfarçada. Que alívio!

Conhecido por explorar comumente o universo feminino no cinema, neste filme ele aprofunda-se muito assertivamente na atmosfera particular masculina. Um jogo cênico de psiques envolvendo a sexualidade, desejo, identidade, poder, paradoxos e a loucura, propriamente dita. Tudo na medida certa!

A atriz espanhola Elena Anaya diz tudo com os olhos, literalmente as janelas de sua alma, emanando a mescla sofrimento e ódio. Já vimos esse olhar lacrimejante extraído por ele, que vasculha o artista até o ponto final. Em quem? Na sempre Victoria Abril. Não?
Marisa Paredes, claro, está perfeita como Marília, a fiel empregada de Legrand, que esconde um grande segredo, entre outros mistérios pulverizados na trama.


“La Piel que Habito”, título original, é inspirado no romance de terror “Mygale”, do francês Thierry Jonquet, publicado em 1995, em seu país, e traduzido em 2003, como “Tarantula”, nos Estados Unidos e Reino Unido.

O filme conta a história de Richard Legrand, um bem-sucedido cirurgião plástico, que vive em uma mansão afastada do centro da cidade. Sua esposa é vítima de queimaduras graves, após sofrer um acidente de carro. Ele, então, dedica suas experiências a procura de uma pele resistente ao fogo, “perfeita”.

São muitas as reviravoltas, porém é um trágico acontecimento com a filha do médico que leva a narrativa para rumos surpreendentes e saborosamente indigestos.

Ficha Técnica

A Pele que Habito (La Piel que Habito), drama, 117 min, 2011
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado em livro de Thierry Jonquet
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet
Produção: Pedro Almodóvar e Agustín Almodóvar
Música: Alberto Iglesias
Fotografia: José Luis Alcaine
Direção de arte: Carlos Bodelón
Figurino: Paco Delgado
Edição: José Salcedo
Site oficial: http://www.sonyclassics.com/theskinilivein
Estúdio: El Deseo S.A.
Distribuidora: Sony Pictures Classics (EUA)/ Paris Filmes (Brasil)
Trailer do filme: http://www.snpcultura.org/pele_onde_eu_vivo.html

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