terça-feira, 27 de abril de 2010

A Dança Final sugere riso e reflexão

Você já percebeu que a maioria das peças de teatro montadas em São Paulo é de autores estrangeiros ou baseada em obras internacionais? Nada contra! Apenas uma observação para iniciar um comentário sobre a peça A Dança Final.

A montagem, em cartaz desde 09 de abril, no Teatro Bibi Ferreira, é uma das últimas peças do santista Plínio Marcos (1935-1999). Ela foi escrita em 1993 e publicada em 1994. Pouco tempo antes de sua morte era comum vê-lo em frente aos teatros da cidade vendendo seus livros. Que saudade! (Eu era adolescente...rsrs).

A Dança Final retrata com muito humor o drama “do classe média” Menezes (Norival Rizzo) ao se esforçar para manter as aparências, tanto em relação à sua virilidade quanto ao seu casamento com Lisa (Denise Weinberg). Para o casal, o importante é mostrar uma vida perfeita diante do seu círculo social.

Inicialmente você vai se divertir, mas depois talvez reflita sobre os fatos que levam um casal a manter uma união durante 25 anos em meio a enganos e farsas. Apesar de engraçada e irônica, a narrativa apropria-se de assuntos como frustração, sexo, envelhecimento, ilusão e desejo, encenando situações patéticas, muitas, típicas das relações humanas.

A história gira em torno da impotência sexual de Menezes (a “pílula milagrosa” surgiu em 1998), um cinquentão boa pinta, que se transforma em um menino triste e angustiado ao sentir que o seu “piu piu pifou”. O acontecimento é a grande piada da trama.

Dramático, ele perde a razão de viver! Seu mundo desmorona! Essa constatação facilmente caminha para uma reflexão sobre inúmeras impotências humanas (políticas, amorosas, sociais, financeiras e por aí vai...).

Já Lisa, também infeliz, camufla o seu descontentamento sexual e romântico sob a armadura de um casamento perfeito aos olhos de quem permeia a vida dos dois. Ela não enxerga o problema de Menezes. O mais importante é a grande festa em comemoração a bodas de prata do casal. Com esse paradoxo o ar de comédia ganha ainda mais força!

Vale a pena ocupar a plateia alguns minutos antes para se divertir com a trilha sonora dos velhos tempos. Roberto Carlos e Kleiton e Kledir fazem parte dela. A iluminação é uma dança de luzes. A troca de roupa dos personagens não é nova, mas é criativa e gera curiosidade. Gostei dos cabides!

Ambos são excelentes atores! Você viu Salve Geral? Denise Weinberg é a apaixonante Ruiva, personagem maravilhosamente construída pela atriz nesse filme. Norival Rizzo, assim como Denise, é um ator premiado pelo Prêmio Shell 2006 (“Oração para um pé-de-chinelo”, de Plínio Marcos). Além de talentoso, ele é um amor de pessoa e está em cartaz também na produção O Homem das Cavernas, no mesmo teatro.

Animou-se com a história? Então, preste atenção: Os cinco primeiros que acessarem o botão Comentários deste Blog (logo abaixo) e enviar o nome completo, dizendo que vai assistir A Dança Final neste fim de semana (01 e 02 de maio) receberá um ingresso grátis para o seu acompanhante. Isto é, ao comprar uma entrada (inteira ou meia), você presenteia alguém com um convite. Gostou? Corra para lá! Não esqueça de deixar um e-mail para eu confirmar a sua presença. Boas risadas!

Serviço:
A Dança Final, comédia, 70 minutos, a partir de 14 anos.
Teatro Bibi Ferreira. Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 931, Bela Vista, (11) 3105-3129
Sexta e Sábado, às 21h30. Domingo, às 20h
Preço: Sexta e Domingo, R$ 40. Sábado, R$ 60
Vendas pela internet: http://www.ingressorapido.com/ ou por telefone: 4003-1212

Ficha Técnica:
Autor: Plínio Marcos
Direção: Noemi Marinho
Elenco: Denise Weinberg e Norival Rizzo
Assistência de Direção: Tatiana Marinho
Cenário e Figurinos: Leopoldo Pacheco
Iluminação: Wagner Freire
Trilha Sonora: Aline Meyer
Produção: Denise Weinberg, Norival Rizzo, Selma Morente e Célia Forte
Realização: Morente Forte Comunicações

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Entrevista com Erik Marmo

Eu e o ator Erik Marmo nos encontramos recentemente no restaurante Paris 6, Jardins, em São Paulo, para uma entrevista de capa publicada neste mês de abril na Revista In House. Agora o Rêtêtê traz trechos desse bate-papo!

Ele falou sobre a sua carreira, seu lindo filho Daniel, 7 meses, o casamento com Larissa Burnier e o mais recente trabalho, a interpretação como Horácio na peça “Escola de Mulheres”. O texto é um dos mais consagrados de Molière, em cartaz no Teatro Vivo, até 30 de maio.
Sob a maestria do renomado e experiente diretor teatral Roberto Lage, a montagem é bastante fiel à obra, ao demonstrar um humor sarcástico, inteligente em uma história bem engendrada.

Erik, além de bonito e simpático, deixou-me com uma boa impressão. Durante a entrevista foi educado, atencioso e procurou ser muito coerente.

Como é fazer o Horário na peça Escola de Mulheres?
Está sendo maravilhoso. Eu estava parado há um ano e ter recebido esse convite foi um grande presente.

O Horácio é um arquétipo de príncipe, retratado em contos de fadas, não?
Sim. Bem colocado. Ele se apaixona perdidamente por Inês e quer libertá-la da prisão de Arnolfo. Mas a peça não fala só disso. Ela trata das dificuldades humanas através de uma comédia muito inteligente.

Você gosta de interpretar os mocinhos?
Eu gosto de desafios. Gosto de aprender, de trocar experiências com atores, de trabalhar, de conhecer novos colegas. Eu amo a minha profissão e aceito interpretar o que mais me agradar, se eu puder escolher. Mas não fico preocupado se sou chamado para ser o mocinho ou o bandido. Tudo depende de qualidade.

E essa nova experiência de ser pai?
Ter um filho muda muito a vida da gente. Sentir que eu sou responsável por uma criança, em todos os sentidos, me faz pensar na vida de modo diferente.
Eu me preocupo desde a proteção, segurança e saúde dele até a minha situação financeira, pois agora suas necessidades estão em primeiro lugar...

Você também cuida muito da sua saúde e adora praticar esportes praianos, como está sendo a sua adaptação em São Paulo, já que mora em Niterói?
Desde criança e até hoje pego onda, nado, jogo vôlei de praia, frescobol e também futebol society. Aqui eu andei pela cidade e achei uma academia, onde já estou praticando natação e pilates.

E essa mudança está sendo boa?
Eu sempre procuro me adaptar às novas situações. Contratamos uma babá para o Daniel e trouxemos nossos principais itens. Estamos bem instalados. Além do mais, eu gosto muito de trabalhar aqui. Os paulistanos vão bastante ao teatro e, isso, é sempre muito gratificante.

Você é vaidoso?
É só você olhar para o meu cabelo e ver que eu não sou nada vaidoso. (aponta para madeixa desgrenhada e rimos juntos). Eu prefiro cuidar mais da minha saúde, que é o meu maior bem.

Qual o grande propósito de viver?
Acho que estamos aqui para aprender e evoluir e não para um simples nascer e morrer. Tento estar sempre atento a esta questão.

O seu casamento com a modelo Larissa Burnier faz parte disso?
Claro que sim. Estamos aqui para crescer um com o outro. Larissa e Daniel estão colaborando muito para a minha evolução. Os relacionamentos de amizade e entre familiares também nos ensinam isso.

O que mais lhe intriga na humanidade?
Ele fixa o olhar, aparentemente lançado ao nada, e retorna com uma lembrança: - Ontem vi uma reportagem na televisão. O assunto era que o filho havia matado o pai. Nossa! Eu fico muito incomodado com esse tipo de notícia. Eu não acredito que fomos criados para matar uns aos outros. E como um filho pode assassinar o seu próprio pai? Tem algo de muito errado nisso. Não consigo entender uma coisa dessas. A maldade me deixa muito intrigado mesmo.

O que é Deus para você?
A natureza.

Serviço:
Escola de Mulheres (Comédia)
Teatro Vivo (290 lugares) - www.teatrovivo.com.br
Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 – Morumbi
De sexta-feira, às 21h30; sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Duração: 90 minutos/ Classificação etária: 12 anos
Ingressos: sexta e domingo: R$ 40. Sábado R$ 50
Elenco: Erik Marmo, Oscar Magrini, Thais Pacholek, Gerardo Franco, Cris Bonna e Flávio Faustinoni
Link para matéria (íntegra) na Revista In House: http://inhouserevista.com.br/

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Brideshead – uma “pintura” de encher os olhos


Se você ainda não decidiu qual filme ver neste findi. A dica do Rêtêtê é Brideshead – Desejo e Poder (Brideshead Revisited), do diretor inglês Julian Jarrold. A produção estreou na sexta (9) em São Paulo. No Rio de Janeiro será dia 16.

O filme é pura qualidade. Milimetricamente pensado em todos os recursos e elementos visuais. Jarrold, já conhecido por seu perfeccionismo cinematográfico, mostra com exatidão seus enquadramentos acertadamente estudados e luzes cuidadosamente planejadas. Impossível falar mal da fotografia!

Tanto nas tomadas internas quanto externas, o charme e a precisão -tradicionalmente ingleses – aparecem não somente na história contada de forma enxuta e paradoxalmente rica em detalhes. Cenas que esbanjam simetria (planos abertos e fechados), glamour e elegância. Isso sem falar do figurino luxuoso e das locações majestosas.

A película, baseada no livro de Evelyn Waugh, que já foi filmado como minissérie em 1980, conta a história de um universitário de Oxford (o classe média Charles Ryder), que se aproxima do excêntrico aristocrata (Sebastian Flyte).

A partir dessa amizade, iniciam-se jogos nada desconhecidos das relações humanas, envolvendo sentimentos de amor, mágoa, ciúme, inveja e amizade.

Conflitos religiosos e familiares engrossam esse belo longa-metragem, ambientado na Inglaterra dos anos de 1920, tendo como o seu principal cenário a mansão de Brideshead.

Na contramão de tanta pomposidade, a película, ironicamente, deslancha de verdade depois da cena escatológica, em que Sebastian, encarnado pelo expressivo ator Ben Wishaw, vomita no quarto do protagonista Charles (Matthew Goode, de O Direito de Amar), recém chegado de Londres.

Goode está perfeito! Com falas concisas, o personagem não precisa mesmo de tanto desenvolvimento narrativo. Ele é sustentado brilhantemente pelas ações e gestos, principalmente faciais, do ator. E, claro, a oralidade é profunda, inteligente, sagaz...

Charles pode parecer frio e calculista, mas basta mergulhar no seu complexo universo para perceber o sofrimento oculto e avassalador, que o deixa, por muitas vezes, inerte. Um ser humano inserido repentinamente em mundo incoerente a sua realidade e, ao mesmo tempo, vitimado por um amor obscuro e idealizado.

Sebastian vive em desequilíbrio. Personagem, ricamente construído, imerso a uma forte confusão mental, gerada por ser gay dentro de uma família nobre e soberba, dominado pela mãe controladora e católica fervorosa, além de ser viciado em álcool e tabaco. Para completar sua desordem psicológica, ele se apaixona por Charles.

Aí é que entra Júlia (Haley Atwell), irmã de Sebastian, uma moça misteriosa e sedutora. O resto eu não vou dizer, mas posso adiantar: ela é a que mais provoca pontos de virada (plot points), pois possui grande força dramática dentro da narrativa. A personagem lhe prenderá a telona!

Você está esperando pela atriz Emma Thompson? Simplesmente maravilhosa e... inglesa! Ela é a matriarca Lady Marchmains, que reina altiva, com base nos dogmas da igreja, refém da rigidez que carrega irracionalmente.

Marido de Emma na trama e na vida real, Michael Gambon é o Sir Marchmains. Para fugir da mulher e de suas próprias convicções católicas, em um país tradicionalmente protestante, ele muda-se para Veneza (pode?) e casa-se novamente, porém o conflito vai além do que consegue suportar.

Se para alguns, o filme é frio e sem alma. Para mim, ele é profundo e intrigante, dono de um calor contido, que explode no interior de cada personagem, nada previsível.

Cena preferida: A perseguição de Júlia por Charles, literalmente descrita pelos “olhares acelerados” da objetiva. Momento que faz você refletir sobre as delícias do cinema. Bom filme!


Ficha Técnica:
Brideshead – Desejo e Poder (Brideshead Revisited)
Reino Unido, 2008, Drama, Romance, 103 min.
Diretor: Julian Jarrold
Elenco: Emma Thompson, Matthew Goode, Michael Gambon, Haley Atwell, Ben Wishaw

domingo, 11 de abril de 2010

Peça Ghetto emociona e atesta momento histórico

“O teatro precisa registrar e perpetuar esse fato com toda a sua poesia, para que a humanidade não perca a competência de amar e de se comover com a dor de seu semelhante”, acredita o ator judeu Fábio Herford. Ele vive Yossel Rakover na peça “Ghetto”, que estreia dia 28 de abril, no Teatro Eva Herz.

Esta citação refere-se ao Holocausto, retratado no palco, com base no livro Yossel Rakover Dirige-se a Deus, do escritor lituano Zvi Kolitz. Intimista, Herford encena o seu primeiro monólogo, cercado por cartas espalhadas pelo chão, em conjunto com mil sapatos, os quais aludem a corpos de judeus mortos na segunda guerra mundial (1939-1945).

Um piano, que executa a trilha sonora da peça, também faz parte do cenário. O instrumento é tocado com maestria pelo próprio ator, que compôs as canções de “Ghetto”. Seus pais austríacos e alemães sobreviventes o ajudaram no processo de construção do personagem.

“Esse espetáculo é um sonho antigo. Sempre quis, como judeu, falar algo sobre o Holocausto. Esse texto é uma oportunidade de homenagear meus familiares e todo o povo judeu”, emociona-se Herford.
Escondido em um porão no gueto de Varsóvia, o maior reduto judaico da Alemanha nazista na Polônia, Rakover conversa com Deus, muitas vezes voltando seu olhar ao céu, buscando respostas sobre quais os motivos que o levaram àquela situação. Outra inquietação do personagem é saber por que os homens exterminam seus semelhantes, sua própria espécie.

Yossel é um homem desarmado, que na sua essência particulariza os seus últimos momentos de vida. “Além do diálogo com Deus, ele também se dirige a quem, no futuro, vai encontrar o seu texto. Ele externa o que sentiu antes de morrer, sem perder a fé”, explica o roteirista e diretor do espetáculo Elias Andreato.

Os escritos chegaram, por engano, a passar por testemunho real e foi reconhecido como um dos mais profundos relatos sobre o Holocausto. Com o tempo, o mal entendido se desfez e essa emocionante ficção, escrita em 1946, transformou-se em livro. Certo dia, a publicação chegou às mãos de Herford. “Foi o próprio Elias quem me apresentou a obra”.

Para Andreato, “Ghetto” é uma produção ímpar. “Yossel contextualiza a sua própria tragédia. É a primeira vez que ouvimos alguém falando, como indivíduo singular, sobre esse momento tão dramático”.

- Como você gostaria que o público visse Yossel, perguntei ao diretor, que respondeu prontamente: “Ele é um judeu orgulhoso de ser judeu. Eu gostaria que o público enxergasse um homem sendo ele mesmo, sem defesas, sem máscaras”, finalizamos a entrevista.

Sobre o autor
Zvi Kolitz (1919-2002) foi produtor e escritor. Seu texto ''Yossel Rakover dirige-se a Deus” tornou-se um clássico da literatura do Holocausto. Co-roteirista e co-produtor de ''Monte 24 não responde'' (1954), ele apresentou o primeiro longa sobre a independência de Israel (1948).

Depois, mudou-se para os EUA e co-produziu “O Deputado”, uma das primeiras peças a questionar o silêncio do Vaticano durante o Holocausto. A montagem aconteceu na Broadway, em meio à controvérsia, por nove meses do ano de 1964.

Kolitz morreu em 29 de setembro de 2002 em Nova York. Ele tinha 89 anos e morava em Manhattan.

Serviço:
Ghetto (60 minutos). Quartas e quintas, às 21h - R$ 30.
Teatro Eva Herz (166 lugares) - Livraria Cultura - Conjunto Nacional
Bilheteria: de segunda a sábado, das 14h às 21h. Domingo e feriado, das 12h às 19h30.
Info: 3170-4059 - Vendas: 4003-2330 e http://www.ingresso.com.br/
Aceita todos os cartões de crédito e débito. Não aceita cheque.
Notícia relacionada: Israel para por 2 minutos em memória às vítimas... http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2010/04/12/ult34u230737.jhtm