domingo, 11 de abril de 2010

Peça Ghetto emociona e atesta momento histórico

“O teatro precisa registrar e perpetuar esse fato com toda a sua poesia, para que a humanidade não perca a competência de amar e de se comover com a dor de seu semelhante”, acredita o ator judeu Fábio Herford. Ele vive Yossel Rakover na peça “Ghetto”, que estreia dia 28 de abril, no Teatro Eva Herz.

Esta citação refere-se ao Holocausto, retratado no palco, com base no livro Yossel Rakover Dirige-se a Deus, do escritor lituano Zvi Kolitz. Intimista, Herford encena o seu primeiro monólogo, cercado por cartas espalhadas pelo chão, em conjunto com mil sapatos, os quais aludem a corpos de judeus mortos na segunda guerra mundial (1939-1945).

Um piano, que executa a trilha sonora da peça, também faz parte do cenário. O instrumento é tocado com maestria pelo próprio ator, que compôs as canções de “Ghetto”. Seus pais austríacos e alemães sobreviventes o ajudaram no processo de construção do personagem.

“Esse espetáculo é um sonho antigo. Sempre quis, como judeu, falar algo sobre o Holocausto. Esse texto é uma oportunidade de homenagear meus familiares e todo o povo judeu”, emociona-se Herford.
Escondido em um porão no gueto de Varsóvia, o maior reduto judaico da Alemanha nazista na Polônia, Rakover conversa com Deus, muitas vezes voltando seu olhar ao céu, buscando respostas sobre quais os motivos que o levaram àquela situação. Outra inquietação do personagem é saber por que os homens exterminam seus semelhantes, sua própria espécie.

Yossel é um homem desarmado, que na sua essência particulariza os seus últimos momentos de vida. “Além do diálogo com Deus, ele também se dirige a quem, no futuro, vai encontrar o seu texto. Ele externa o que sentiu antes de morrer, sem perder a fé”, explica o roteirista e diretor do espetáculo Elias Andreato.

Os escritos chegaram, por engano, a passar por testemunho real e foi reconhecido como um dos mais profundos relatos sobre o Holocausto. Com o tempo, o mal entendido se desfez e essa emocionante ficção, escrita em 1946, transformou-se em livro. Certo dia, a publicação chegou às mãos de Herford. “Foi o próprio Elias quem me apresentou a obra”.

Para Andreato, “Ghetto” é uma produção ímpar. “Yossel contextualiza a sua própria tragédia. É a primeira vez que ouvimos alguém falando, como indivíduo singular, sobre esse momento tão dramático”.

- Como você gostaria que o público visse Yossel, perguntei ao diretor, que respondeu prontamente: “Ele é um judeu orgulhoso de ser judeu. Eu gostaria que o público enxergasse um homem sendo ele mesmo, sem defesas, sem máscaras”, finalizamos a entrevista.

Sobre o autor
Zvi Kolitz (1919-2002) foi produtor e escritor. Seu texto ''Yossel Rakover dirige-se a Deus” tornou-se um clássico da literatura do Holocausto. Co-roteirista e co-produtor de ''Monte 24 não responde'' (1954), ele apresentou o primeiro longa sobre a independência de Israel (1948).

Depois, mudou-se para os EUA e co-produziu “O Deputado”, uma das primeiras peças a questionar o silêncio do Vaticano durante o Holocausto. A montagem aconteceu na Broadway, em meio à controvérsia, por nove meses do ano de 1964.

Kolitz morreu em 29 de setembro de 2002 em Nova York. Ele tinha 89 anos e morava em Manhattan.

Serviço:
Ghetto (60 minutos). Quartas e quintas, às 21h - R$ 30.
Teatro Eva Herz (166 lugares) - Livraria Cultura - Conjunto Nacional
Bilheteria: de segunda a sábado, das 14h às 21h. Domingo e feriado, das 12h às 19h30.
Info: 3170-4059 - Vendas: 4003-2330 e http://www.ingresso.com.br/
Aceita todos os cartões de crédito e débito. Não aceita cheque.
Notícia relacionada: Israel para por 2 minutos em memória às vítimas... http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2010/04/12/ult34u230737.jhtm

Um comentário:

Unknown disse...

Amiga, parabéns! Como sempre, um arraso!