quarta-feira, 14 de abril de 2010

Brideshead – uma “pintura” de encher os olhos


Se você ainda não decidiu qual filme ver neste findi. A dica do Rêtêtê é Brideshead – Desejo e Poder (Brideshead Revisited), do diretor inglês Julian Jarrold. A produção estreou na sexta (9) em São Paulo. No Rio de Janeiro será dia 16.

O filme é pura qualidade. Milimetricamente pensado em todos os recursos e elementos visuais. Jarrold, já conhecido por seu perfeccionismo cinematográfico, mostra com exatidão seus enquadramentos acertadamente estudados e luzes cuidadosamente planejadas. Impossível falar mal da fotografia!

Tanto nas tomadas internas quanto externas, o charme e a precisão -tradicionalmente ingleses – aparecem não somente na história contada de forma enxuta e paradoxalmente rica em detalhes. Cenas que esbanjam simetria (planos abertos e fechados), glamour e elegância. Isso sem falar do figurino luxuoso e das locações majestosas.

A película, baseada no livro de Evelyn Waugh, que já foi filmado como minissérie em 1980, conta a história de um universitário de Oxford (o classe média Charles Ryder), que se aproxima do excêntrico aristocrata (Sebastian Flyte).

A partir dessa amizade, iniciam-se jogos nada desconhecidos das relações humanas, envolvendo sentimentos de amor, mágoa, ciúme, inveja e amizade.

Conflitos religiosos e familiares engrossam esse belo longa-metragem, ambientado na Inglaterra dos anos de 1920, tendo como o seu principal cenário a mansão de Brideshead.

Na contramão de tanta pomposidade, a película, ironicamente, deslancha de verdade depois da cena escatológica, em que Sebastian, encarnado pelo expressivo ator Ben Wishaw, vomita no quarto do protagonista Charles (Matthew Goode, de O Direito de Amar), recém chegado de Londres.

Goode está perfeito! Com falas concisas, o personagem não precisa mesmo de tanto desenvolvimento narrativo. Ele é sustentado brilhantemente pelas ações e gestos, principalmente faciais, do ator. E, claro, a oralidade é profunda, inteligente, sagaz...

Charles pode parecer frio e calculista, mas basta mergulhar no seu complexo universo para perceber o sofrimento oculto e avassalador, que o deixa, por muitas vezes, inerte. Um ser humano inserido repentinamente em mundo incoerente a sua realidade e, ao mesmo tempo, vitimado por um amor obscuro e idealizado.

Sebastian vive em desequilíbrio. Personagem, ricamente construído, imerso a uma forte confusão mental, gerada por ser gay dentro de uma família nobre e soberba, dominado pela mãe controladora e católica fervorosa, além de ser viciado em álcool e tabaco. Para completar sua desordem psicológica, ele se apaixona por Charles.

Aí é que entra Júlia (Haley Atwell), irmã de Sebastian, uma moça misteriosa e sedutora. O resto eu não vou dizer, mas posso adiantar: ela é a que mais provoca pontos de virada (plot points), pois possui grande força dramática dentro da narrativa. A personagem lhe prenderá a telona!

Você está esperando pela atriz Emma Thompson? Simplesmente maravilhosa e... inglesa! Ela é a matriarca Lady Marchmains, que reina altiva, com base nos dogmas da igreja, refém da rigidez que carrega irracionalmente.

Marido de Emma na trama e na vida real, Michael Gambon é o Sir Marchmains. Para fugir da mulher e de suas próprias convicções católicas, em um país tradicionalmente protestante, ele muda-se para Veneza (pode?) e casa-se novamente, porém o conflito vai além do que consegue suportar.

Se para alguns, o filme é frio e sem alma. Para mim, ele é profundo e intrigante, dono de um calor contido, que explode no interior de cada personagem, nada previsível.

Cena preferida: A perseguição de Júlia por Charles, literalmente descrita pelos “olhares acelerados” da objetiva. Momento que faz você refletir sobre as delícias do cinema. Bom filme!


Ficha Técnica:
Brideshead – Desejo e Poder (Brideshead Revisited)
Reino Unido, 2008, Drama, Romance, 103 min.
Diretor: Julian Jarrold
Elenco: Emma Thompson, Matthew Goode, Michael Gambon, Haley Atwell, Ben Wishaw

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