quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Eu e José Saramago

Depois de alguns minutos de expectativa, entra na sala o escritor José Saramago. Muito sereno, ele falou sobre variados assuntos durante uma coletiva para a imprensa, realizada no Consulado de Portugal, no Jardim América, zona Sul de São Paulo.

Para muitos, foi um privilégio estar diante de um “Prêmio Nobel de Literatura”. Para o “Prêmio Nobel de Literatura”, aquela situação parecia não ter tanta importância. Era mais um ritual organizado por sua editora para lançar, mundialmente, um de seus livros. Desta vez, o mais recente: “A viagem do elefante”.

A relevância, na verdade, estava no seu discreto, quase imperceptível orgulho e sentimento de gratidão a "algo", quem sabe ao cosmo, por ter conseguido terminar a sua obra. Ele contou que quando chegou a 40ª página foi abatido por uma grave pneumonia. Ficou 6 meses afastado das escrituras, para depois, finalizar essa recente produção "cheia de humor", a qual não reflete em nada a doença, segundo ele.

Terminar o livro foi uma "grande vitória". Com essa experiência, à beira da morte, ele admite que a sua serenidade ficou ainda mais acentuada. “E sem precisar ler Paulo Coelho”, brincou.

Um homem com tanta cultura, fama, respeito, dono de uma bagagem literária e escrita invejáveis é, absolutamente, humilde.

A humildade, tão recomendada em estudos espirituais, de fato, não usa máscara. Basta prestar atenção nas palavras, nas ações, na maneira de andar e, principalmente, no olhar de quem a pratica. Estar diante de um dos poucos bons pensadores vivos, mundialmente reconhecido, é comprovar esta afirmação.

Aos 86 anos, o consagrado escritor português falou que o mundo só tem um jeito para se redimir de tanta barbárie, pela qual está inserido: - a bondade. Sim, ele afirmou que somente com a bondade - essência do ser humano -, os direitos humanos, de fato, poderão ser exercidos. Caso contrário, eles (os direitos humanos) continuarão somente no papel.

O inquieto escritor não é um pessimista como muitos afirmam. Ele é realista. O pensador está incrustado em seu tempo e fala intrinsecamente e, com muita propriedade, dele. Antes de tudo, o carismático “Prêmio Nobel de Literatura” (1998) é também amoroso e tolerante.

Fica aqui a mensagem de um ser humano tranqüilo na forma de se relacionar com o outro, inquieto e incomodado com as injustiças do mundo e, acima de tudo, muito preocupado com os rumos que a humanidade vem se direcionando nestes últimos tempos.

Será que no momento atual valeria a pena defender a célebre frase dos anos 60 “É proibido proibir?”. Em uma certa altura desse inesquecível momento, que durou cerca de 1 hora e 15 minutos, ele semeou essa reflexão.

Ao final da entrevista surgiu uma pergunta: Como poderemos mudar o panorama atual? Ele respondeu: “Não mudaremos a vida, sem mudarmos de vida”.

O que?
“A viagem do elefante” - 15º Romance de José Saramago
264 páginas
Tiragem de 50 mil exemplares
Editora Companhia das Letras
R$ 42

Exposição “José Saramago: A Consistência dos Sonhos”
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201, Pinheiros
Tel. 11 - 2245-1900
De 29 de novembro a 15 de fevereiro de 2009
De terça a domingo, das 11h às 20h
Grátis

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