quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Não acostumado com o clima...

... de festas do tipo rave, ele foi para um desses encontros, realizado em uma área afastada da cidade.

Depois de horas perdidos pelo caminho, por vias não certeiras, ele e seus amigos da faculdade encontraram a tal da rave.

“Que festa estranha, que gente mais esquisita”, pensou ele quando chegou ao local.

Mas já que o rê-tê-tê estava formado, decidiu não comentar sobre a sua primeira impressão. Receava criar uma atmosfera indigesta, envolvendo seus quatro amigos do primeiro ano do curso de Rádio e TV. Afinal, ele tinha de fazer jus ao esforço que havia feito para ser convidado.

Muita gente, música ensurdecedora, muitos gritos, cenas de namoros ardentes entre alguns dos participantes. Homem com homem, mulher com mulher, homem com mulher.

“Nossa, que... moderno”, refletiu sem ter muita certeza do que realmente achara naquele primeiro momento.

Até aquela encantadora experiência, ele só havia freqüentado festas promovidas por sua família e, às vezes, em casa de filhos de amigos de seu pai, que era desembargador.

“Ei garoto quer um pouco?”, disse uma menina magra, bem menor do que ele, loirinha, bonitinha, voz melosa, meio mole.

“O que é?”, respondeu ele, sem graça.

“Toma logo. Está com medo de mim?”, gargalhou em “câmera lenta” a garota.

Mesmo desconfiado tomou o líquido, bem parecido com água. Preferia arriscar a ser considerado medroso, covarde ou não aceito.

“Nossa, estou ficando um pouco tonto”, olhava para a garota que havia o levado para o meio da pista, perto de uma piscina.

Ele olhava para ela e via seu rosto desfocado, deformado, nebuloso... Ficou com muita vontade de rir. E... riu pro-funnnnnnnnn-da-mente.

Sentia-se feliz com toda aquela gente ao redor, que não o conhecia. “Que bom. Ninguém sabe se sou rico ou pobre, se me chamam de CDF da classe ou o malandrinho que sempre passa de ano colando as provas”, supôs saboreando a flutuação da alma.

Aos poucos o seu corpo foi assumindo um descontrole muito próprio. Libertou-se! Sentia-se livre e feliz pela primeira vez na vida.

Uma outra garota bem mais alta do que ele aproximou-se. Proprietária de uma voz grave, perguntou:

“Oi, você tem pó?”

“Pó, pó, um pó, né? Ah! Não tenho não... Mina”.

“E folhinha?”

“Hum, folhinha? Essa acabou agora a pouco”.

“E bala cara, tem uma bala aí?”

“Desculpe-me, deixei as minhas pastilhas no carro”.

“Puxa... Você conhece alguém aqui que tem um GHB?”

“Não, eu não conheço não. O meu também acabou”.

“Está bem moleque, então me dá um chiclete”.

“Olha sabe o que é: - A verdade é que é a primeira vez que eu venho a uma festa assim. Chiclete? Essa droga eu não conheço. Como ela é?”

“Você está me tirando. Chiclete? É chiclete, ué!”

* Baseado em história real.

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