Recentemente o admirável e respeitado escritor José Saramago esteve em São Paulo para lançar mundialmente o seu mais recente livro “A Viagem do Elefante”.
A ocasião foi publicada neste blog, no dia 26 de novembro, no formato de narrativa. Porém, a coletiva para a imprensa havia acontecido no dia anterior. Após alguns pedidos, o RÊ-TÊ-TÊ publica trechos da entrevista.
Boa leitura!
A primeira pergunta foi sobre pergunta
“Quando digo que estou cansado de dar entrevista, em parte é por causa de vocês da imprensa que repetem as mesmas perguntas. Quando vocês fazem as mesmas perguntas, eu fatalmente vou ser tentado a dar as mesmas respostas. Mas eu me esforço, quando fazem as mesmas perguntas, em dar respostas que não sejam exatamente iguais”.
Sobre a comemoração da Declaração Universal dos Direitos Humanos
“Nesses dias que estão próximos de comemorar os sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, temos que refletir sobre as reais conquistas desse documento. Ele foi escrito do ponto de vista Ocidental, da Igreja Católica, Igreja Cristã. Mas parece que os direitos humanos ficaram só no papel, pois de fato nunca existiram. Infelizmente tenho que reconhecer que nunca existiu os direitos humanos, esse documento ficou só no papel, uma coisa ridícula. Uma grande parcela da humanidade não sabe, nem sequer, o que está escrito no documento. A grande causa que a humanidade poderia mobilizar-se seria essa: reivindicar os seus direitos. Mas sei que é muito difícil colocá-lo em ação. Não vejo como. A Declaração é uma intenção”.
Sobre sustentabilidade
“Uma vida sustentável está se transformando numa coisa impossível para milhões de pessoas que estão perdendo seus empregos, depois da crise financeira mundial. Mas do ponto de vista ecológico, as pessoas deveriam preservar mais os bens da natureza. Estamos distantes de Governos que pensam na ecologia, no mundo atual”.
O que o intelectual pensa sobre a crise?
“Essa crise fez com que milhões de pessoas que antes pertenciam à classe média e que agora não pertencem mais, estejam sem saber o que fazer. Não sabemos até onde isso vai parar. Como é que os responsáveis por tudo isso não perceberam o que poderia acontecer; O que é paradoxal é que os mesmos agentes que antes diziam que tínhamos que ter menos Estado, são os mesmos que hoje pedem socorro ao Estado”.
Quanto à prática de ações efetivamente políticas
“Não há uma alternativa política para o panorama econômico atual. Vamos viver essa vida de remendos até quando?”.
A cara da morte estava viva
“Quando eu comecei a escrever esse conto, que prefiro chamar assim, no lugar de romance, eu tive um grave problema de saúde e tive de parar de escrever. Quando voltei a escrevê-lo, depois de me curar e voltar do hospital, eu estava pesando cinqüenta e um quilos, para eu que pesava em torno de setenta quilos, isso era demais. Hoje peso setenta e seis. Eu pensei que não ia mais viver e aqui estou. Antes de ficar doente eu tinha escrito quarenta páginas e depois que saí da enfermidade, fiz o resto. Mas o que é interessante é que você, ao ler, não percebe nenhuma descontinuidade na história”.
Humor em um momento de tristeza
“’A Viagem do Elefante’ é o meu primeiro livro que conta com humor. Embora pareça paradoxal, pelas circunstâncias em que foi escrito. O meu livro é bem humorado e faz com que os leitores dêem algumas gargalhadas”.
Serenidade para poucos
“Não mudou quase nada minha visão do mundo. Sem a doença, eu estaria dizendo aqui as mesmas coisas que hoje estou dizendo. Posso dizer que uma coisa acentuou. Foi a minha serenidade. Embora eu sempre a tive, a serenidade acentuou ainda mais no meu comportamento. E eu nem precisei ler Paulo Coelho. Não precisei ler toda a sua obra”, brincou.
A origem simples
“Sempre fui calado, melancólico e até mesmo reservado. Vivia no campo com meus familiares e amigos que eram filhos de camponeses como eu. Me tornei o escritor que hoje sou, pelas leituras que fui fazendo no decorrer da minha vida, pois meus familiares eram quase analfabetos. Esse homem que está aqui, que tem Prêmio Nobel de Literatura, viveu de uma certa maneira”.
Saramago também é blogueiro
“Eu tenho certas dúvidas em relação à revolução da Internet. No fundo sou um ingênuo. Escrevo os textos (em seu blog) para ter mais contato com o leitor e poder trocar idéias. A Internet, talvez no futuro, seja uma coisa totalmente diferente do que é hoje... Será que teremos a mesma liberdade que temos hoje? Não sei, pois vejo que a Internet está a se transformar em um grande negócio?”.
Ideologia para viver
“É preciso conquistar o poder político para que possamos mudar o estado das coisas”.
* Foto de Saramago. Lisboa, 2006 (Kim Manresa)
A ocasião foi publicada neste blog, no dia 26 de novembro, no formato de narrativa. Porém, a coletiva para a imprensa havia acontecido no dia anterior. Após alguns pedidos, o RÊ-TÊ-TÊ publica trechos da entrevista.
Boa leitura!
A primeira pergunta foi sobre pergunta
“Quando digo que estou cansado de dar entrevista, em parte é por causa de vocês da imprensa que repetem as mesmas perguntas. Quando vocês fazem as mesmas perguntas, eu fatalmente vou ser tentado a dar as mesmas respostas. Mas eu me esforço, quando fazem as mesmas perguntas, em dar respostas que não sejam exatamente iguais”.
Sobre a comemoração da Declaração Universal dos Direitos Humanos
“Nesses dias que estão próximos de comemorar os sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, temos que refletir sobre as reais conquistas desse documento. Ele foi escrito do ponto de vista Ocidental, da Igreja Católica, Igreja Cristã. Mas parece que os direitos humanos ficaram só no papel, pois de fato nunca existiram. Infelizmente tenho que reconhecer que nunca existiu os direitos humanos, esse documento ficou só no papel, uma coisa ridícula. Uma grande parcela da humanidade não sabe, nem sequer, o que está escrito no documento. A grande causa que a humanidade poderia mobilizar-se seria essa: reivindicar os seus direitos. Mas sei que é muito difícil colocá-lo em ação. Não vejo como. A Declaração é uma intenção”.
Sobre sustentabilidade
“Uma vida sustentável está se transformando numa coisa impossível para milhões de pessoas que estão perdendo seus empregos, depois da crise financeira mundial. Mas do ponto de vista ecológico, as pessoas deveriam preservar mais os bens da natureza. Estamos distantes de Governos que pensam na ecologia, no mundo atual”.
O que o intelectual pensa sobre a crise?
“Essa crise fez com que milhões de pessoas que antes pertenciam à classe média e que agora não pertencem mais, estejam sem saber o que fazer. Não sabemos até onde isso vai parar. Como é que os responsáveis por tudo isso não perceberam o que poderia acontecer; O que é paradoxal é que os mesmos agentes que antes diziam que tínhamos que ter menos Estado, são os mesmos que hoje pedem socorro ao Estado”.
Quanto à prática de ações efetivamente políticas
“Não há uma alternativa política para o panorama econômico atual. Vamos viver essa vida de remendos até quando?”.
A cara da morte estava viva
“Quando eu comecei a escrever esse conto, que prefiro chamar assim, no lugar de romance, eu tive um grave problema de saúde e tive de parar de escrever. Quando voltei a escrevê-lo, depois de me curar e voltar do hospital, eu estava pesando cinqüenta e um quilos, para eu que pesava em torno de setenta quilos, isso era demais. Hoje peso setenta e seis. Eu pensei que não ia mais viver e aqui estou. Antes de ficar doente eu tinha escrito quarenta páginas e depois que saí da enfermidade, fiz o resto. Mas o que é interessante é que você, ao ler, não percebe nenhuma descontinuidade na história”.
Humor em um momento de tristeza
“’A Viagem do Elefante’ é o meu primeiro livro que conta com humor. Embora pareça paradoxal, pelas circunstâncias em que foi escrito. O meu livro é bem humorado e faz com que os leitores dêem algumas gargalhadas”.
Serenidade para poucos
“Não mudou quase nada minha visão do mundo. Sem a doença, eu estaria dizendo aqui as mesmas coisas que hoje estou dizendo. Posso dizer que uma coisa acentuou. Foi a minha serenidade. Embora eu sempre a tive, a serenidade acentuou ainda mais no meu comportamento. E eu nem precisei ler Paulo Coelho. Não precisei ler toda a sua obra”, brincou.
A origem simples
“Sempre fui calado, melancólico e até mesmo reservado. Vivia no campo com meus familiares e amigos que eram filhos de camponeses como eu. Me tornei o escritor que hoje sou, pelas leituras que fui fazendo no decorrer da minha vida, pois meus familiares eram quase analfabetos. Esse homem que está aqui, que tem Prêmio Nobel de Literatura, viveu de uma certa maneira”.
Saramago também é blogueiro
“Eu tenho certas dúvidas em relação à revolução da Internet. No fundo sou um ingênuo. Escrevo os textos (em seu blog) para ter mais contato com o leitor e poder trocar idéias. A Internet, talvez no futuro, seja uma coisa totalmente diferente do que é hoje... Será que teremos a mesma liberdade que temos hoje? Não sei, pois vejo que a Internet está a se transformar em um grande negócio?”.
Ideologia para viver
“É preciso conquistar o poder político para que possamos mudar o estado das coisas”.
* Foto de Saramago. Lisboa, 2006 (Kim Manresa)
Um comentário:
Queridíssimaaaa, amei!!!
Obrigrada por este post, a senhora é realmente demais!
Beijo!!!
Regiane
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